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A vida do produtor mudou muito!

17/12/2021

 

Aquela imagem de uma “vidinha” tranquila, bucólica, longe de preocupações e cheia de uma rotina preguiçosa há muito tempo não existe mais. Viver no campo e do campo dá muito trabalho e requer do produtor alto nível de atualização, para dar conta de acompanhar a evolução tecnológica e manter o negócio sustentável. É sobre isso a entrevista com o presidente da Assocana, Bruno Garcia Moreira, que vem sentindo “na pele” o custo das transformações vividas pelo agronegócio, especialmente na última década.

Embora seja formado em Fisioterapia, área em que atuou profissionalmente até 1993, você já é produtor rural há mais de 30 anos e planta cana há quase 20 anos. Como você avalia as mudanças ocorridas no setor nesse período?

A vida do produtor hoje, com as novas tecnologias, trouxe vários benefícios e melhorias no dia-a-dia no campo, mas sem dúvida nenhuma também é difícil acompanhar toda essa avalanche de tecnologia existente no mercado. Antes, você plantava, colhia, fazia os tratos culturais bem simplificados e tinha uma boa produção, porque a terra era jovem, as variedades apresentavam poucos problemas e quase não tínhamos doenças importantes no canavial. Parece que era tudo muito simples. Hoje não! O produtor precisa ser muito capacitado para acompanhar toda essa evolução que demanda muito tempo. Você corta a cana e vai até o final do ciclo fazendo manejo, não para mais. Eu sinto na pele todas essas mudanças.

Quais são as principais mudanças?

Atualmente, temos materiais muito bons, com grande potencial produtivo, só que a exigência tecnológica que vem nesse pacote para que esses materiais atinjam essa produtividade, também é grande. Aquela “simplicidade” foi alterada, exigindo gestão e investimentos equivalentes. Além disso, tem uma gama de coisas que o produtor precisa estar atento para ser sustentável. Para atingir todos os objetivos hoje é preciso trabalhar muito, ter capacidade de investimento, porque o custo também aumentou muito. Antes, você plantava cana basicamente para a produção de açúcar e álcool; hoje, produzimos cana com a finalidade de cogeração de energia, de CBios (Créditos de Descarbonização) etc. Temos de estar atentos cada vez mais ao mercado de energia renovável, às questões ligadas à regulamentação fundiária, CAR (Cadastro Ambiental Rural), PRA (Programa de Regularização Ambiental), enfim, uma gama de assuntos que compõem a produção. Não é mais simplesmente ir para a fazenda e produzir. É ir para a fazenda e produzir com sustentabilidade, com informação.

Qual é a importância da Assocana nesse momento?

Esse cenário cria nas associações de modo geral, e também nas cooperativas, uma oportunidade de ação e complementação de assistência ao produtor, que não é mais só um produtor, mas um empresário rural, que precisa entender de questões sociais, trabalhistas, ambientais, financeiras, mercado, além de ficar atento à evolução e às novas demandas. Nesse contexto, as estruturas de apoio passam a ter uma importância imensa. Acreditamos que a Assocana possa ser um player muito importante, gerando informações na área jurídica, agronômica, econômica, técnica e estando atenta a toda essa movimentação. Isso é fundamental para os associados. O produtor, daqui para frente, vai ter uma exigência de informação muito maior que as gerações anteriores. E a Assocana pode encurtar esse caminho. Estamos nos preparando pra isso.

 

Esse apoio inclui todos os tamanhos de produtor?

Dependendo do tamanho do produtor, provavelmente ele tenha uma competência própria em algumas questões, mas a maioria de pequenos e médios produtores vai precisar de uma estrutura associativista para ter acesso as essas tecnologias e informações. Para os grandes produtores ela também tem um papel fundamental, porque a Associação sempre vai poder participar de um sistema maior como a Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil), que possibilita acompanhar toda a política de Estado, filtrando o que é importante para os produtores. É muito mais confortável e seguro saber que, paralelamente à produção, tem gente cuidando disso.

 

Como lidar com o volume de informação gerada nos tempos atuais?

Realmente existe muita informação! A expertise da Assocana e das associações como um todo é lidar com essas informações - compilar, filtrar, validar e dissemina-las entre os produtores, criando uma metodologia eficiente, para que chegue até ele de forma gradual e sistematizada. Muita informação fica difícil de processar. Temos na região diferentes modelos de negócio, divididos hoje em três modalidades, mas todos eles são canavieiros. Portanto, a demanda básica é igual, todos precisam de tecnologia, orientações nas questões trabalhistas, sociais e ambientais. O que a Assocana pode fazer é estratificar e ver para cada público qual é a demanda principal e qual linguagem usar para atingir a todos. Vamos fazer isso investindo na nossa estrutura interna e buscando parcerias. Acreditamos que, independentemente do tamanho, tudo isso gera custos e, trabalhando associativamente, esse custo é diluído. Mas não temos a menor dúvida de que a informação continua sendo um insumo extremamente importante para o setor.


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